O meu partido é um coração partido

Depois de muitas desilusões não adianta, o coração, já calejado, fica meio embrutecido, armado até os dentes, cheio de reservas e desconfianças. Sabemos que vale mais mergulhar de cabeça, pular sem pára-quedas, se entregar sem medo, mas a razão não deixa.

Foi assim quando eu e o Atleta começamos a sair e estávamos prestes a namorar: as experiências negativas vieram à tona e eu não conseguia acreditar que as palavras lindas que ele dizia eram verdadeiras e que a atenção que dispensava era sincera. Tinha em mente que tudo não passava de uma grande encenação, tinha certeza que eram artimanhas da conquista.

Eu agia errado, eu sei. As pessoas são diferentes uma das outras, os brutos também amam e os canalhas, em algum momento, se apaixonam por alguém (não acredito em Coelhinho da Páscoa nem em Papai Noel, sem piadas, por favor, porque hoje estou falando sério!), mas não acreditava que ele estivesse apaixonado por mim.

Atleta era uma companhia agradável, ríamos dos outros e de nós mesmos, tínhamos muitas afinidades e eu não via a hora de apresenta-lo aos meus amigos como namorado. Estava de quatro – às vezes literalmente, mas esse já é outro assunto -, mas o namoro terminou antes de começar, por minha culpa.

Tudo porque num belo sábado à noite ele me ligou, explicou que iria sair com os amigos, disse quem eram os amigos, mas eu, claro, não acreditei. Não me chamou para ir junto, alguma coisa deve ter. Quer dizer, algum rabo deve estar nessa noitada e não sou eu!

Eu, ultra-mega-super-hiper experiente, conhecedora do sexo masculino, não iria deixar isso barato. Não é meu namorado, é? Resolveu me deixar sozinha num sábado à noite, não é? Então resolvi aceitar o convite daquele cara gato, meio nada a ver, que eu fiquei um dia. E lá fui eu, linda e loira, para um pub badalado com os amigos.

– Id, tem um cara ali na outra mesa que não pára de olhar para você!

Acertou quem imaginou que era o meu Atleta. Ele lá, numa mesa de cheia de homens, conversando com os amigos, e eu, burralda, aos beijos com um antigo affair. Lembro que ele passou dez vezes na minha frente, sem ter coragem de me cumprimentar. Lembro a hora que não resistiu e cumprimentou o cara que estava comigo. Eles se conheciam!

Preciso dizer que nunca mais ficamos juntos?

Esses dias o Atleta conversou comigo sobre esse episódio do passado. Foi difícil ouvir que ele estava realmente interessado em mim e queria ficar comigo de verdade. Por medo de tentar, eu joguei fora a oportunidade ficar com ele um pouco mais.

Sei o quanto é difícil acreditar até que se prove o contrário, se entregar sem reservas e pular de cabeça num relacionamento tendo o coração cheio de cicatrizes e remendos. Estou tentando. Mesmo com feridas recentes, eu prefiro a dor de chegar ao fundo do poço e ter que escalar outra vez, a dor de sofrer pela incapacidade de tentar.

Update:

Muita gente acha uma bobagem, mas eu não: Feliz Dia Internacional da Mulher!

Idiotilde

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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  • Agente cai muito no erro de fazer as coisas só por que ele foi lá e fez. Saiu com os amigos? Ah, é? Vou sair pra pegar alguem… Por via das dúvidas, é sempre melhor fazer o que agente tá mesmo afim… Deixa o cara pra lá, se vocês não tão namorando, faz alguma diferença?

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