Estou de férias. Forçadas, diga-se de passagem – mas esse assunto fica para outra hora, até porque a maioria já sabe e estou cansada de repetir o mesmo discurso mil vezes. A questão é: minha rotina mudou. Virou de pernas para o ar e estou completamente perdida.
Eu não sabia o quanto minha irmã era mimada, o quanto meu filho é autoritário e implicante, o quanto minha mãe é elétrica e impaciente e o quanto meu pai é pessimista. De perto ninguém é normal. Estou em dúvida se minha família está mais para circo ou hospício.
Como filha exemplar e mãe dedicada , entre um compromisso e outro, resolvi encarnar a Amélia que havia dentro de mim. Impressionante a quantidade de louça que se usa, o quanto minha jabuti come, a pirraça que Lucas faz para ir ao colégio, o número de vezes que esse telefone toca, o número de vizinhos que chama.
Simplesmente não existe como colocar meu quarto em ordem depois que o armário resolveu despencar e quem consertaria resolveu aparecer quando ninguém estava em casa, mas juro estou fazendo de tudo para não fazer a bateria de Lucas de cabide, mesmo sem saber o porquê ela foi parar ali.
Às vezes resolvo brincar de Ana Maria Braga (ela ainda tem um programa de culinária?) e fazer o almoço da trupe. Penso no cardápio, separo ingredientes, pego minha luva da Betty Boop e começo o programa, que seria bem mais fácil se não tivesse uma platéia incrédula:
– Mãe, o que você está fazendo aí?
– O almoço, meu filho!
– VOCÊ SABE?????????
Preciso dizer que não vejo a hora dessas férias terminarem?