Lembro do colo do meu avô. Da minha avó mandando eu colocar meia para brincar. Das viagens de carro com a família. Dos desenhos do Pinóquio que quase me matavam de tanto chorar. Das idas à Friburgo e daquelas charretes que ficavam na pracinha. Das festas na casa da vizinha. Do futebol que jogava com os meninos. Da primeira revista em quadrinhos que li. Do jogo da verdade. Da festa de 15 anos. De todos os casamentos em que fui madrinha. Do nascimento do meu filho. Da turma de escola. Dos forrós na faculdade. Do meu deslumbramento ao pisar na Europa. Da minha formatura. Dos meus 30 anos. Do dia em que o vi pela primeira vez. Do dia em que saímos. Do dia em que nos beijamos. Da nossa primeira viagem. Estão guardados em minha memória todos os momentos felizes que constituem a minha história. Mas saudade, saudade mesmo, eu não tenho de nenhum dia já vivido. Eles me fizeram ser o que sou. E sou melhor agora. Sinto saudade do beijo ainda não beijado. Do presente não recebido. Da festa que ainda não fui. Das surpresas que terei. Das comemorações que farei. Quando eu afirmo “Estou com saudades”, eu juro, não estou com saudade dos dias que vivemos juntos – mesmo os que foram ótimos. Estou com saudade do banho que ainda não tomamos. Da gargalhada que não demos. Das delícias que não comemos. Das viagens que não fizemos. Das músicas que não ouvimos. Dos passos que não dançamos. Pode parecer muita loucura, mas minha saudade está no amanhã. E hoje, eu não vejo mais o meu amanhã sem você.
Texto publicado no blog Amor Crônico no dia 3/7/2013.