As imposições sociais atreladas ao gênero estão por toda parte e podem ser observadas diariamente, nas coisas mais simples. Desde o assento “reservado para MULHERES com bebês ou crianças de colo” aos almoços familiares em que tem sempre aquela tia para perguntar cadê o namorado. E se você tem namorado, quando vai casar. Se casou, quando terá filhos. Se teve filho, quando terá o próximo. Como se toda mulher fosse obrigada a seguir o mesmo roteiro.
Infelizmente, muitas mulheres não percebem a opressão e desigualdade pelas quais as passam diariamente. Por mais que o mundo esteja mudando, ainda cabe a mulher a obrigação de cuidar dos filhos e da casa, por exemplo, fazendo com que algumas atribuam ao Feminismo a culpa pela “dupla jornada”. Simplesmente não conseguem entender que é machismo que cria homens incapazes de compartilhar as responsabilidades domésticas.
Em pleno século XXI, ainda somos poucas ocupando cargos de liderança, seja em empresas públicas ou privadas. A participação feminina na política, por mais que tenha aumentado nos últimos anos, é bastante tímida se comparada a masculina. E pesquisas apontam que, mesmo com mais escolaridade, mulheres têm salários menores do que os dos homens. Se isso não é desigualdade de gênero, o que mais pode ser?
Já tentei parar com essa mania de refletir sobre o cotidiano, mas eu não consigo. Quando uma mulher é violentada e dizem que ela é culpada porque “se insinuou”, “estava bêbada”, “quis provocar usando essa roupa”, eu fico indignada. Assim como fico indignada quando uma é agredida pelo companheiro e dizem que “se o homem bateu, ela deve saber o porquê”.
Algumas podem alegar que não têm um companheiro agressivo e, por isso, não precisam se preocupar com essas questões. Eu também não tenho e, mesmo assim me preocupo. Assim como me preocupo com as cantadas na rua e com frases como “só podia ser mulher”, “foi promovida porque deu para o chefe”, “trabalha como um homem” e tantas outras que já ouvimos – sobre nós mesmas ou sobre as outras – sem nos darmos conta de que enquanto uma de nós for oprimida, nenhuma de nós é verdadeiramente livre.
Fico muito incomodada quando ouço mulheres chamando umas às outras de “piriguete”, “piranha”, “vadia”. E também quando chamam a amante do companheiro de “destruidora de lares”. Por que são as mulheres sempre as culpadas? Aliás, eu me faço várias perguntas todos os dias. Por que vagões femininos ao invés de ensinar os homens a respeitar os corpos das mulheres? Por que ingresso mais barato em boates, se mulheres não são enfeites? Por que as mulheres se aposentam com menos tempo de trabalho se vivem mais? Por que os homens não são educados a cuidar da família, como as mulheres?
Mesmo que algumas situações pareçam nos beneficiar, na verdade servem para perpetuar a desigualdade entre os gêneros e colocar a mulher como dependente, submissa e inferior. E eu não vou concordar com isso. Antes de sermos homens ou mulheres, somos humanos. Nascemos livres. Temos direito a igualdade. Essa construção cultural do que é feminino e masculino precisa ser discutida, repensada e, claro, enfrentada diariamente.
Na maior parte das vezes falam das Feministas com descaso e preconceito. São usados termos como “mal comidas”, “sapatão”, “azedas”. Talvez por esta razão eu tenha relutado muito para admitir que sim, eu sou Feminista. Se uso calça, posso votar, dirigir, trabalhar, estudar ou ir à um estádio de futebol, por exemplo, devo isso ao Feminismo. E sou grata a ele. Até porque, ainda hoje, em muitos países, essas atividades que nos parecem tão simples ainda são proibidas às mulheres.
Muitos não reconhecem o Feminismo como um movimento legítimo. Ignoram a história, a militância, os muitos anos de estudo acerca do tema e se limitam a reproduzir os estereótipos sem questioná-los, partindo do princípio de que se as coisas são assim devem permanecer assim.
Feminismo não é o contrário de Machismo. Feministas não estão contra os homens. Feministas lutam por uma sociedade justa para ambos os gêneros. Feministas lutam para que cada um de nós possa escolher o que é melhor, independente dos padrões impostos pela sociedade. Feministas acreditam que o mundo pode ser melhor para todos – e será. E eu não posso deixar de acreditar também.
“Por que razão o mundo sempre pertenceu aos homens e só hoje as coisas começam a mudar? Será um bem essa mudança? Trará ou não uma partilha igual do mundo entre homens e mulheres?”
Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo
Eu penso que não é o feminismo que é ruim, e sim a maneira como algumas pessoas o interpretam e às vezes querem impor aos outros um modo de vida que julgam ser o melhor, sem levar em consideração em como a mulher se sente. E não estou falando de coisas óbvias como menores salários, cantadas na rua, estupro ou coisas assim, falo de coisas simples. Por exemplo, tenho uma amiga que ao terminar a faculdade, resolveu casar, ter um bebê e ser dona de casa. Logo foi chamada de submissa, de ser idiota por ter estudado tanto pra nada, que ia depender de um homem, entre outras coisas. Eu, inclusive, num primeiro momento não entendi, até ver que ela realmente estava feliz e realizada com isso, não se sentia menos mulher por não trabalhar fora e ser independente. Oras, ela fez o que queria fazer, não me fez por pressão da sociedade, simplesmente quis um outro modo de vida, quem pode julgá-la por isso?. Nessa hora eu entendi que o que é muito lógico pra mim, como me formar, exercer minha profissão, ser independente, pra ela não fazia muito sentido, e acho que é isso que algumas mulheres não entendem e não respeitam.
Verdade, nem todos os modelos se aplicam a todas as pessoas. Precisamos ser livres para escolher o que nos faz felizes. E o Feminismo luta para que possamos ser livres para escolher. 😉
Parabéns pelo blog! E importantíssimo falar do significado do feminismo enquanto um movimento. Resgatar as histórias e as lutas das mulheres. Mostrar que existem problemas e que as mulheres sabem muito bem quais são, e que o feminismo está aí para resolvê-lo.
Obrigada, Gi!
Juntas somos mais fortes. 😉