A queda do avião e a imprevisibilidade da vida


A queda de um avião é sempre triste, mas saber que o acidente do airbus A30, nos Alpes franceses, foi proposital fez com que a tragédia ficasse ainda pior. Inicialmente eu não queria acreditar. E mesmo depois de tantas notícias eu preferia que fosse mentira. Que tivesse sido uma falha mecânica, uma pane ou qualquer coisa que não tivesse ligada a ação consciente, planejada e proposital de um profissional que deveria zelar pela vida das pessoas.

Todos os tripulantes e passageiros estão mortos. Se o copiloto tinha problemas mentais, estava com depressão, fazia tratamento psiquiátrico, não vai mudar o rumo da história. A única certeza que temos até então é de que ele se matou e assassinou várias pessoas, que cheias de vida, viajavam por alguma razão.

Certamente nenhum passageiro, por mais medo que tivesse de avião, imaginou que o copiloto fosse capaz de derrubá-lo. O próprio pai do piloto também não. Li que está em estado de choque, sentindo-se culpado, sem entender o porquê de tudo isso. Provavelmente nenhum dos familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho imaginaram uma situação dessas. O que aconteceu foi uma tragédia.

O que o copiloto foi capaz de fazer revela o quanto estamos à mercê das situações sem que nada possamos fazer, o quanto sofremos interferência das atitudes dos outros, o quanto a nossa vida está interligada a de pessoas que nem sequer conhecemos. A tragédia foi um caso extremo, claro. Mas, e no nosso dia a dia, somos sempre os únicos responsáveis pelo que acontece em nossas vidas? Quanto do que acontece depende de nós e quanto depende das circunstâncias alheias à nossa vontade?

Além disso, avaliamos a interferência das nossas decisões na vida de outras pessoas? Estamos preocupados com as atitudes que tomamos? Não estamos sozinhos no universo, não somos uma ilha e emanamos energia a todo o momento – conscientes ou não. Assim como servimos de exemplo, positivo ou negativo, mesmo quando não fazemos ideia disso. Por que, então, pouco nos preocupamos em tomar atitudes positivas, altruístas e boas para nós e os outros?

Temos sonhos a realizar e objetivos a conquistar. Mas não devemos entrar em desespero quando algo não sai exatamente como esperamos, não devemos negligenciar a nossa saúde em detrimento de compromissos, não podemos fingir que está tudo bem, quando na realidade não está. Do cuidado com a nossa vida, a nossa saúde e nosso bem-estar depende também a felicidade de outras pessoas, por mais que no dia a dia isso pareça impossível.

A vida é imprevisível. Não há fórmulas, nem bulas, nem manuais. E nenhuma garantia de que tais escolhas vão nos levar a determinados resultados. Nem que ao pegar um avião vamos chegar ao nosso destino. Ou um ônibus ou uma barca. O que não nos impedirá de continuar saindo de casa todos os dias. Mas de que maneira desejamos sair de casa? Quais sentimentos desejamos transmitir?

Segundo Hilda Hilst, “você nunca conhece realmente as pessoas. O ser humano é mesmo o mais imprevisível dos animais.” Se ela está certa, façamos a gentileza de conhecer a nós mesmos para não escandalizar o mundo com surpresas tão nefastas.

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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