Mentiras confortáveis e consequências desastrosas

A amiga pergunta se está gorda e, mesmo estando, você responde que não. Você deixa de atender um telefonema e horas mais tarde diz que não estava próximo ao celular e não o viu tocar. Um familiar fez uma comida horrível e você diz que estava deliciosa. Você não gosta de determinado prato, mas era o único feito pelo anfitrião e come assim mesmo. O filho pede um brinquedo, você não tem dinheiro e diz que vai comprar outro dia, ainda que este dia não chegue nunca. Você chega atrasado e alega que pegou engarrafamento. Nem saiu de casa e diz que está chegando. Odeia o presente que ganhou, mas diz que achou lindo.

Mentir é bastante comum em nossa sociedade, tanto que inventamos aos próprios filhos a existência de papai noel, coelhinho da páscoa e fada do dente. Mas a reflexão sobre o mundo da fantasia na infância pode ficar para outro momento. Hoje eu quero falar dos adultos, que travestidos de honestidade e sinceridade, vivem mentindo sobre pequenas coisas diariamente.

A mentira é necessária? A vida fica melhor quando mentimos? Para quem mentimos quando contamos uma mentira, para nós ou para os outros? Eu estou longe de ser perfeita, mas faz tempo aboli as pequenas mentiras do meu cotidiano. Mentir, ainda que por coisas que pareçam pequenas, exige uma série de mentiras depois.

Imagina que você disse para sua tia que a sobremesa que ela fez estava uma delícia, quando você achou horrível, e no próximo encontro familiar ela resolve repetir o prato? Você, que disse amar, se vê obrigado a comer novamente ou inventar uma série de outras mentiras para não comer. Quando, tudo que precisava ser feito, era ter dito a verdade da primeira vez.

As pessoas mentem para serem aceitas, para manter um personagem, para agradar os outros. Ou ainda: mentem por hábito. Infelizmente todos nós gostamos de ouvir coisas boas a nosso respeito e muitas vezes não somos receptivos às críticas, fazendo com que as pessoas que convivem conosco optem por mentir a nos magoar.

Mas dizer a verdade é libertador. Você não tem que ficar pensando no que disse antes, você não precisa inventar desculpas para encobrir outras e, mesmo que alguém se ofenda inicialmente, depois vai refletir e descobrir que foi muito melhor ouvir algo verdadeiro do que uma mentira confortável.

Ser sincero, no entanto, não é ser grosso, falar tudo o que vem a cabeça, nem emitir opinião quando não é questionado. É tornar a vida mais simples para nós mesmos e aqueles que convivem conosco. Vai demorar? Fala a verdade. Não quer receber os familiares em uma data festiva? Diga que planejou passar o dia sozinho. Está com preguiça de sair? Fale isso para a  amiga. Não gosta de comer o que lhe ofereceram? Agradeça e fale que não gosta.  Desconhece determinado assunto? Diga que não sabe e ainda ganhe uma oportunidade de aprender. Simples assim. Porque a vida é simples.

Ser verdadeiro com os outros é, antes de qualquer coisa, ser verdadeiro conosco. É respeitar quem somos e permitir que as pessoas que nos amam nos conheçam verdadeiramente. As “pequenas” mentiras, tão presentes em nosso cotidiano, podem ter consequências desastrosas. Sem contar que mentiras pequenas podem levar às grandes. Portanto, da próxima vez que julgar mais fácil mentir, escolha dizer a verdade. E, quando alguém lhe disser a verdade, ainda que doa, agradeça.

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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  • Oi linda, adorei o texto, concordo com vc, mas admito que nem sempre consigo falar a verdade – principalmente nesse quesito comida, sei lá, não consigo falar para a pessoa que o prato não ficou assim tão maravilhoso como ela está dizendo, já em outras coisas sou super tranquila, respeito muito meus desejos e por isso tenho até uma certa faminha de não me importar, ou seja, mentindo ou falando a verdade as consequências sempre batem a porta, mas com certeza ser fiel a si mesmo é muito mais libertador e gratificante.
    Texto muito bom, parabéns!
    Beijos.

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